TOQUES DE BERIMBAU
Nesta página serão demonstrados os toques da capoeira angola e regional, assim como uma descrição do estilo de jogo para cada toque e a música mais apropriada a ser cantada na roda.
Todos os toques da capoeira angola são baseados na filosofia do mestre Jogo de Dentro, enquanto os toques da regional foram retirados do (MACHADO, MANOEL DOS REIS. CD Curso de capoeira regional. São Paulo: NovoDisco Brasil Indústria Fonográfica Ltda e Live Music Ltda. Faixas 1, 2, 3, 4, 5, 6 e 7) como base do toque e acrescidos dois chiados no início de cada compasso para dar mais dinâmica ao toque.
Se houver alguma divergência entre nomenclatura dos toques ou sequência das batidas, o Grupo de Capoeira Símbolo da Paz respeita todas as opiniões. Por isso este capítulo refere-se aos toques praticados neste grupo.
Os toques são divididos em capoeira angola e capoeira regional, sendo seis e oito toques respectivamente.
Os toques da capoeira angola são:
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Angola
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São Bento Pequeno
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São Bento Grande
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Jogo de Dentro
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Apanha a Laranja no Chão Tico Tico
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Samba de Roda
Os toques da capoeira regional são:
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São Bento Grande de Bimba
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Benguela
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Idalina
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Santa Maria
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Amazonas
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Iuna
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Lamento
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Cavalaria
Angola
Em uma roda de angola, há três berimbaus sendo o gunga, quem comanda a roda e possui a altura mais grave, o viola, com uma altura intermediária, e o violinha, com a altura mais aguda entre os três berimbaus. Cada berimbau faz um estilo de toque diferente durante a roda: Angola, São Bento Pequeno e São Bento Grande, respectivamente para o gunga, viola e violinha.
O jogo de angola é bem lento, com movimentos executados próximo ao solo, com bastantes posições invertidas. Um jogo caracterizado pela malícia e mandinga. Também há chamadas, nas quais os capoeiristas se aproximam e executam a coreografia ou passada.
A música típica de uma roda de angola é a ladainha e o corrido. A ladainha é cantada no início de uma roda ou para toda e qualquer dupla que for entrar na roda, dependendo do grupo. Após a ladainha é cantado um corrido para iniciar o jogo entre os capoeiristas. Durante o corrido, são transmitidas mensagens aos jogadores podendo até utilizar improvisos.
São Bento Pequeno
O berimbau viola executa este toque durante uma roda de angola, podendo fazer algumas variações sem demasia. Portanto o jogo é o mesmo do toque anterior, assim como as músicas cantadas.
São Bento Grande
Durante uma roda de angola, o berimbau violinha executa este toque juntamente com variações livres e dessa maneira seguindo o estilo da Angola.
Também o berimbau gunga pode alterar o estilo do toque para São Bento Grande com a intenção de alterar o estilo de jogo e torná-lo mais dinâmico, malicioso e com mais movimentos desequilibrante, resultando em um jogo mais buscado e mais técnico.
Preferencialmente devem ser cantados corridos, com bastantes mensagens aos capoeiristas e se possível realizar improvisos sobre o andamento do jogo.
Este toque também pode ser adaptado e utilizado na capoeira regional, com um ritmo um pouco mais acelerado em relação à angola. Em alguns grupos de capoeira regional, este toque é utilizado para realização de um jogo cadenciado, bem floreado, com movimentos abertos, acrobacias e pulos. Geralmente também utilizados para apresentações de capoeira regional.
Na capoeira regional, durante este toque podem ser cantadas cantigas, quadras e corridos, a critério do mestre ou do mais graduado.
Jogo de Dentro
O toque Jogo de Dentro é utilizado quando os capoeiristas estão jogando muito afastados. Quando o mestre ou aluno mais graduado percebe isso, começa a tocar Jogo de Dentro para os capoeiristas se aproximarem mais. Neste toque o jogo é bem sincronizado e com movimentos muito próximos, então movimentos com afastamento devem ser evitados.
Preferencialmente devem ser cantados corridos e passar a mensagem aos capoeiristas sobre o andamento do jogo, que estão jogando afastados e precisam mudar o estilo de jogo. Pode utilizar improvisos para transmitir a mensagem.
Apanha a Laranja no Chão Tico-Tico
A origem deste toque está no período logo em seguida à abolição da escravatura e antes de ser proibida por lei. A capoeira angola era praticada em praças e local público, geralmente aos domingos em frente às igrejas. Os capoeiristas eram em sua maioria antigos escravos e enfrentavam dificuldades para exercício de uma profissão. Alguns deles encontraram na capoeira uma forma de renda, utilizando-a em emboscadas para assaltos ou em jogos de aposta, os quais receberam posteriormente o nome de Apanha a Laranja no Chão Tico-Tico. Nestes jogos, os capoeiristas apostavam dinheiro e enrolavam-no em um lenço colocado no centro da roda. O lenço só poderia ser pego com a boca, sem o uso das mãos ou dos pés, claro utilizando a capoeira para obter vantagem de posição e espaço.
Atualmente o jogo é realizado da mesma maneira, porém não necessariamente deve ser feita uma aposta em dinheiro. É um estilo muito interessante, que auxilia na percepção espacial e na desenvoltura da mandinga e malícia, além de um prazeroso jogo de angola.
Preferencialmente são cantados corridos ou eventualmente quadras, seja uma música ou um improviso.
Samba de Roda
Apesar de estar classificado como angola, atualmente o Samba de Roda é utilizado por capoeiristas da angola e da regional. A classificação com angola deve-se ao fato de que suas origens estão nas senzalas e era praticado pelos escravos como manifestação artística e cultural. Como era praticado pelos mesmos integrantes da capoeira e no mesmo local, o Samba de Roda foi incorporado à capoeira angola e mantido até os dias atuais como tradição e costume.
Dentre os vários estilos de Samba de Roda atualmente praticados, como exemplos há aquele em que todos os participantes entram na roda, sambam em círculo e retornam ao local original; aquele em que os participantes sambam no meio da roda, chama-se um integrante para sambar, passando-lhe a vez através de um tocar de barriga, simbolicamente o umbigo; e há também aquele em que dois participantes entram e sambam no interior da roda.
Nos períodos pré e pós escravidão, o Samba de Roda era o momento no qual havia paquera entre moças e rapazes, sinais e movimentos subliminares como colocar o chapéu na cabeça da moça, uma pisada no pé e uma beliscada. Obviamente que também havia algumas discussões por causa de ciúmes ou disputa pela moça.
As cantigas são próprias do Samba de Roda podem ser encontradas no capítulo 3 deste trabalho. Atualmente é comum ver, nas rodas de samba, diversas músicas do samba propriamente dito e do pagode, composições de músicos como Zaca Pagodinho, Martinho da Vila e Dudu Nobre, entre outros. Inclusive é comum encontrar grupos de não capoeiristas organizados em rodas, tocando samba com outros instrumentos como cavaquinho, viola e banjo, acompanhados de instrumentos de percussão.
São Bento Grande de Bimba
Nesse toque, criado por mestre Bimba, o jogo é mais buscado, com movimentos traumatizantes, desequilibrantes e de mão, com estratégias de jogo para surpreender o oponente na roda e finalizar com um tombo, ou marcar um movimento. Este estilo exige destreza, agilidade e reflexo do capoeirista.
Para não demonstrar violência no jogo, o capoeirista deve utilizar técnica na aplicação dos movimentos e dos tombos. Por isso em alguns grupos em que os participantes carecem de técnica, esse estilo é confundido com um jogo mais agressivo e violento.
Preferencialmente devem ser cantados corridos ou eventualmente uma quadra. Cantigas e ladainhas devem ser evitadas.
Benguela
Toque criado por mestre Bimba com a intenção de acalmar os ânimos dos alunos. Quando, ao tocar São Bento Grande, mestre Bimba percebia que os alunos estavam exaltados ou que poderia haver alguma lesão ou agressão entre os alunos, mestre Bimba mudava o toque para Benguela, com a intenção de evitar que os alunos se machucassem.
Neste estilo o jogo é mais cadenciado, mais próximo, com movimentos acompanhados, com bastante técnica e malícia. A ênfase se altera de finalizar a estratégia como no São Bento Grande de Bimba, para demonstrar a estratégia sem finalizar. Pode haver tombos, entretanto podem ser evitados.
Neste estilo podem ser cantados corridos ou quadras. As cantigas preferencialmente devem ser evitadas.
Iuna
O termo Iuna, que em tupi significa água negra, foi utilizado pelos índios para chamar a ave da espécie Anhima cortuna, da família Anhimiade. Esta família tem o nome baseado do tupi Nhãuma, que significa ave preta.
A mitologia existente em torno das aves Anhaimas (Iuna) consiste e serem extremamente místicas, de difícil captura, com impressionante habilidade de caçar e fugir rápido, dotadas de mistérios e protetora do seu ambiente, além de ser considerada uma ave importante na medicina indígena e suas garras, bicos e ossos de grande valia.
O toque foi inspirado no canto da ave Iuna macho chamando a fêmea para o acasalamento. Mestre Bimba utilizava este toque para jogo entre formados e mestres, os quais, assim como a ave, deveriam mostrar sua destreza, habilidade, técnica e agilidade dentro da roda. Os formados utilizavam este toque para colocar em prática o treinamento de cintura desprezada.
Na Iuna não há músicas cantadas e um costume é entoar o grito Iuna durante o jogo e os nomes das pessoas que estão dentro da roda.
Há alguns grupos que utilizam esse toque em homenagem a finados mestres ou pessoas próximas, entretanto o mais comum é tocar Lamento nestes casos.
Amazonas
Amazonas, também conhecido como hino da capoeira, é um toque festivo e alegre, quando tocado demonstra a alegria em receber um mestre e seus alunos. Como um bom anfitrião, o jogo deve ser agradável e prazeroso. Portanto, neste toque o estilo de jogo deve ser mais bonito, sem agressividade, acompanhado e principalmente com muitas acrobacias e posições invertidas. É utilizado em batizados e apresentações para movimentação solo (individual) e o capoeirista mostra sua destreza, agilidade, flexibilidade e técnica com movimentos acrobáticos, saltos, posições invertidas, sequências e plasticidade nos movimentos.
Alguns grupos utilizam expressões corporais imitando animais, porém não há nenhuma literatura que traga o porquê deste estilo com animais.
No toque Amazonas são cantados corridos e quadras.
Idalina
O nome Idalina tem origem Latim e segundo o (SITE Significado do Nome, São Paulo, disponível em: <http://www.significadodonome.com>, acesso em: 01 mar. 2013.) significa “Aquela que veio de da cidade italiana de Idália”. Entretanto, não há registro da relação no nome Idalina e a capoeira.
Idalina é um toque cujo ritmo é bem marcado devido à presença de bastantes semínimas. Neste toque é realizado um jogo com facas e facões, utilizado em apresentações devido ao efeito causado aos espectadores pela presença do facão, do som produzido pela colisão dos facões e pelos lampejos luminosos das faíscas.
Originado da capoeira Regional, são cantadas quadras e corridos preferencialmente.
Santa Maria
Também chamado por alguns grupos de Santa Maria da Regional, por utilizarem o nome Santa Maria para um jogo da Angola.
Este toque foi criado para homenagear as maltas de capoeira, famosas principalmente no Rio de Janeiro durante o século XIX. Os integrantes das maltas possuíam um estilo característico de se vestir e utilizavam navalhas ou facas, escondidas nos bolsos, na bengala ou na manga, além de um lenço de seda no pescoço justamente para proteção contra um possível ataque de navalha.
Portanto, Santa Maria é uma homenagem às maltas de capoeira e no jogo são utilizadas facas e navalhas, nas mãos e nos pés, como demonstração de destreza e habilidade com estes objetos. Cabe ressaltar que não há incentivo à violência e brigas.
Também um toque da capoeira regional, preferencialmente quadras e corridos são cantados.
Lamento
Este é um toque fúnebre e transmite um sentimento triste pela presença de colcheias seguidas de mínimas. É o único toque da capoeira regional com a presença de mínimas. É utilizado para homenagear finados mestres, capoeiristas ou até mesmo pessoas próximas dos capoeiristas.
Neste toque não há jogo e nem canto como uma forma de respeito.
Cavalaria
Tem a sua origem na capoeira angola e também pode ser utilizado na regional. Antigamente, na época em que a capoeira era discriminada e considerada como ato criminal, este toque servia para alertar os capoeiristas da chegada da polícia, geralmente a cavalo, o que deu origem ao nome Cavalaria. Quando tocado, os praticantes paravam de jogar capoeira e tentavam disfarçar a prática em dança, ou ficavam parados, ou saíam correndo, ou simplesmente começavam a passear para ludibriar a autoridade local. Mestre Bimba adaptou esse toque quando alguma pessoa estranha e suspeita aparecia na academia durante a roda. Como seus alunos treinavam para campeonatos, havia o cuidado para não mostrar o jogo e os pontos fortes da equipe. Dessa maneira, quando mestre Bimba tocava Cavalaria, os alunos mudavam a forma de jogar, com movimentação errada e golpes sem técnica.
Não há músicas cantadas na Cavalaria, justamente para sobressair o toque e passar a mensagem da maneira mais clara aos presentes.